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segunda-feira, 16 de abril de 2012

memórias

já não me lembro do teu nome. sei que moras em évora, numa casinha branca à moda do alentejo, já a sair da cidade. sei que andaste comigo na escola durante cinco anos, e te sentavas muitas vezes ao meu lado porque sabias que podias olhar sempre para o meu caderno. sei que o teu cabelo cheirava a laranjas boas e nunca tinhas unhas partidas nem pintadas. sei que ias para casa sozinha e tinhas a chave debaixo de um tapete azul. sei que não estudaste e decidiste ir embora. sei que és casada e tens três filhos. ainda hoje não percebo por que deixaste espinho e foste para évora. só sei que foi depois daquele passeio de moral à serra da estrela onde me deste a mão e um beijo para meter ciúmes àquele rapaz loiro de lisboa que também lá estava. hoje posso dizer-te que na altura não percebi isso, achava que estavas mesmo a gostar de mim e que isto ia ser para sempre, como nos filmes. tínhamos catorze anos e podia ser sempre assim. isto, mantenho. não é por ter agora quarenta e três que vou deixar de achar que não devíamos ter catorze para sempre. depois desse beijo, nunca devias ter ido embora. nunca devias ter ido tentar um lugar na repartição de finanças de évora só porque não havia lugares aqui no norte. nunca te devias ter ido embora. devias ter-me dado tempo para te dizer que esse beijo mudou a minha vida e que sou louco por ti. que ainda hoje não arranjei ninguém e continuo à tua espera. mas a verdade é que não deste. foste para évora, assim de um dia para o outro, e pronto. não foi? não foi... ai! caraças! pois é, já não me lembro do teu nome. dar nome é uma coisa é possuí-la, e eu sei que nunca te vou ter para mim.

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