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segunda-feira, 18 de abril de 2011

«Allô? Daqui não fala Deus»

Se há coisa que me mete especial irritação são os telemóveis que tocam dentro das igrejas. Cada vez que ouço um tocar, lembro-me dos guarda-ventos de algumas igrejas onde estão frases do tipo «Deus não fala ao telemóvel. Desligue o seu», mas a que ninguém liga.
Para mim, os telemóveis que tocam nas igrejas são sinal de duas coisas. A primeira, é que ir à igreja rezar, em geral, e ir à Missa, em particular, já deixaram de ser coisas "fora do tempo", num lugar onde quem governa é Deus e onde se fala com Ele, sobretudo, através do silêncio. O tempo dos telemóveis nas igrejas é o do império das guitarras e das flautas e das baterias e das músicas "para jovens" e das palmas e é o tempo em que se vai à Missa, de carro, à paróquia ao lado só porque o padre demora menos tempo e podemos ir almoçar mais cedo. Fascinam-nos as experiências de retiro de silêncio, ou de recolecção, ainda há quem se deixe fascinar pela vida dos monges, o que seja, mas não somos capazes de fazer o nosso retiro de uma hora semanal para a Eucaristia. Já não somos capazes de sair do ritmo do mundo, como bem denuncia a anedota do padre que durante a consagração gritou «Golo», porque nem durante a Missa largava a telefonia para ouvir os relatos do futebol...
A segunda coisa de que os telemóveis nas igrejas são sinal é da falta de respeito que as pessoas começam a demonstrar pelas outras. Como o seu telemóvel lhes pode fazer jeito, deixam estar o som, e chegam até - infelizmente não tão raras vezes como isso... - a atendê-lo durante a Missa, como se não se estivesse a passar nada... Neste sentido, ponho os telemóveis no mesmo campo das chanatas de enfiar no dedo, que se usam "porque está calor e são confortáveis", ou das camisolas de alças ou dos calções ou micro-coisas (saias ou calções) que também se teimam em levar para a igreja ou para os locais de trabalho. É, de facto, a ditadura do individualismo: "desde que eu me sinta bem, tenha à mão tudo de quanto preciso, os outros que se aguentem. Se gostam de ver, vejam, se não gostam não vejam". Perdeu-se o respeito pela sociedade, mais, pela comunidade e pelos acontecimentos comunitários. Já não há espaço de intimidade, em todo o lado se mostra tudo e de todas as maneiras (sinal disso são os colegas que contam a sua vida sexual toda desde pequeninos como se fosse uma coisa normalíssima e como se não houvesse um espaço individual de intimidade que importa preservar).
A sorte é que, com os telemóveis, a solução é simples. Carregue no botão off ou escolha o modo silêncio. A comunidade cristã agradece, e Deus também, mesmo não falando por telemóvel...

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