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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O cristão e "o outro"

Um dos entrevistadores mais chatos que já vi para com o seu interlocutor, foi Nuno Artur Silva, na entrevista que fez a José Tolentino Mendonça no Canal Q [pode ser vista no on demand do canal, no dia 28 de Outubro de 2010, programa Mapa]. Basicamente a única questão que fez (isto é, obviamente, pleonasmo...), reformulada de várias maneiras, foi a de como o padre Tolentino lidava com o facto de ser padre e poeta ou, reformulo eu, de como o cristão padre Tolentino Mendonça lida com o poeta José Tolentino Mendonça. Já a resposta a esta pergunta foi sempre a mesma, que ser padre e poeta é de facto uma tensão, mas que o cristão tem sempre de lidar com isso.
De facto, percebi como isto é verdade. A vida de qualquer cristão é sempre tensão entre a fé e aquilo que ele é no mundo, entre o cristão e "o outro". Todos os católicos têm interesses que aos não cristãos parecem pouco consêntaneos com a sua fé - as tais coisas a que Nuno Artur Silva, na entrevista, chamava "os prazeres". Como é possível um padre fazer poemas sobre John Coltrane e os Tindesticks e o amor? Como é possível um cristão falar de bola como os outros, falar de carros e de mulheres e dessas coisas do homem comum e da arte e da pintura e da poesia e ser artista e músico e o que lhe apetecer?
Julgo que o desafio está no tipo de testemunho que dá da sua fé. O cristão é um Homem, logo os seus interesses são os mesmos dos outros homens - e as privações a que se sujeita, como bem dizia o padre Tolentino, na referida entrevista, são para o ensinar a valorizar mais os momentos em que deve afirmar(-se). Mas é na forma como fala dos seus "prazeres" que o cristão se distingue. Ele sabe o momento de parar, o momento de calar, o momento de guardar algumas coisas na sua intimidade. Porque a relação humana mais importante que tem é com Deus, e essa faz-se no silêncio da oração, esse silêncio que é pedido nos grandes momentos de solidão que são as grandes decisões da vida.

Vamos rezar!

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