remexia os bolsos quando estava sozinho
porque a vida sempre qualquer coisa a mais
para deitar no lixo e começar de novo
talvez mais leve da tralha que vamos acumulando
isqueiros e facturas com número de contribuinte
e listas de compras e notas breves sobre o amor
nas costas de um papel de desconto em gasolina
e aquele último aviso de que vinhas mais tarde
deixado no móvel do hall de entrada da casa que partilhámos
e onde já não estou mas que ainda lembro tantas vezes
porque era o futuro dois cães no pátio um gato
a dormir no sofá vermelho da sala
um emprego seguro na repartição de finanças
e a segurança de te dar a mão
no passeio da cidade às quatro horas da tarde
e o amanhã agora outro talvez mais desconhecido
com mais o medo o medo o medo
mas melhor porque mais meu
porque agora eu é que escolho a quem dar a mão
e rejeito o passeio às quatro horas da tarde
porque sujo e com uma memória triste de ti
e porque sempre preferi andar descalço junto ao mar
facto de que nunca quiseste saber
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