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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os novos donos da Igreja

Nos últimos tempos, acompanhando as redes sociais e, dentro destas, grupos de pensamento cristão, tenho reparado que há um novo grupo que cresce cada vez mais e que me preocupa. É um grupo de pessoas que defende uma visão tradicionalista da celebração litúrgica (até aqui nada de mal) e uma visão tradicionalista da teologia (até aqui também nada de mal). Os problemas começam quando estas pessoas mostram que a visão que defendem é considerada por si como a única visão possível da Liturgia e da Teologia.
Como disse, nada contra que tenham uma visão tradicionalista da Liturgia e da Teologia, afinal uma das primeiras coisas que se aprende em Eclesiologia é que a Igreja Católica é um espaço de unidade na diversidade. Mas considerar que uma dada visão sobre uma e outra é a única possível é que já pode constituir um problema. Sobretudo quando essa defesa implica uma crítica aberta e em praça pública contra os Bispos que não concordam com a sua perspectiva (que, por vezes, chega a ser uma crítica ao Papa, se ele não celebra segundo a liturgia tradicionalista ou se defende posições teológicas mais "vanguardistas"; neste último caso, basta que concorde ou se revele próximo de teólogos que o façam).
Outra das coisas que se aprende em Eclesiologia e, também, nas disciplinas de Teologia Fundamental, é que a garantia de comunhão com a Igreja é assegurada pelo trinómio Sagrada Escritura - Magistério - Tradição. E os Bispos foram importantes na fixação do cânone da primeira e são ainda hoje o garante das duas últimas. Criticá-los por princípio, publicamente e, perdoem-me a ousadia, por capricho, por muito que se ache que se possui a verdade do que é a Igreja, é fazer ruir a comunhão eclesial. Ainda para mais quando se faz isso em praça pública e em grupos ligados ao pensamento cristão.
E numa Igreja sem comunhão (e, como tal, sem fiéis) de nada servirá uma Liturgia bem celebrada e uma Teologia firme (se bem que eu, na minha humilde visão de teólogo, considere que é diferente uma Teologia firme de uma Teologia fixa. Afinal, a Teologia não deixa de ser uma ciência...). Uma Igreja sem os Bispos e os padres que não nos convêm (e também há muitos que não me conviriam, pelas mais variadas razões) já não é a Igreja de Jesus Cristo e é preciso ter a noção clara disso.
Desde Jesus que a Igreja sempre foi uma comunidade de Santos e pecadores (para mim, a Igreja é mais um grupo de pecadores assumidos [como rezamos, Domingo após Domingo, no Acto Penitencial, seja em que língua for] do que de santinhos [embora nela haja Santos em todos os tempos, e graças a Deus]). Desde os Apóstolos (os primeiros Bispos) que há Santos e pecadores. Desde esse tempo que nunca foram escolhidos só os perfeitos. E desde esse tempo que é nessa comunidade que Jesus se manifesta.
Se vão descobrindo que já não é nesta comunidade religiosa que encontram Jesus e se este Papa, estes Bispos, estes padres e estes irmãos na fé já não vos servem então que criem um novo grupo religioso. Mas por favor e para o bem da Igreja, não estraguem a comunhão dos que ainda encontram Cristo aqui. Na variedade de pensamento do Magistério, no ensino dos homens pecadores que nos conduzem, na variedade litúrgica onde há muito erro e coisas quase cómicas mas onde ainda continua a surgir, Vivo, o Senhor Jesus, sempre que o sacerdote profere as palavras consecratórias, seja em que língua for.

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