blogue de poesia e teologia.

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quarta-feira, 4 de março de 2015

boina escura

não faço parte de nenhum partido político
e só tenho a quarta classe.
como uma aguadilha com feijões de lata
aquecida num fogão de dois bicos.
sou um andrajo de existência,
palavras caras que aprendi
num dicionário de capa azul,
propriedade do meu filho do meio.

o dicionário tem páginas manchadas de saliva.
o meu filho molha os dedos
antes de buscar as palavras seguintes.

lê muito, o meu filho do meio,
relatórios e manuais que não
consigo entender. nunca leu
o romance que lhe ofereci nos anos.
nunca leu livros de poemas.
não conserva o respeito
pelo cheiro da província.

eu cá ainda sonho
com o som do arado a cortar a terra
e com o poema que isso transporta.
aqui, na cidade, sou um prisioneiro
que as palavras vêm, amiúde, libertar.

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