blogue de poesia e teologia.

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sexta-feira, 18 de julho de 2014

deviam ser estilhaços

entre mim e ti há um vidro
uma qualquer coisa invisível
que nos separa para sempre
(na leprosaria havia um vidro
esburacado a separar os pais
dos seus próprios filhos
que lhes eram tirados à nascença
para não haver contaminações.
as mães nunca chegavam a tocar
naqueles que pariram
mal lhes conseguiam sentir
a respiração ofegante
própria dos que amam)

na verdade nunca te fiz festas
foi-me sempre impossível
partir a placa grande de acrílico
que nos separava
limitava-me a esfregar o vidro
como se do outro lado tu sentisses
alguma coisa
hoje percebo finalmente
que nunca sentiste nada
és orgulhosa o suficiente
para nem me acenares
não dizeres um adeus
do lado de lá deste sítio
onde vegetam os que vão morrendo

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