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segunda-feira, 30 de julho de 2012

talvez isto seja um adeus

se da minha vida fazem parte vómitos, poemas, mesmo que sobre o osso da pila, missas católicas bem celebradas, preocupação com o correcto crescimento das crianças, abnegação, atenção aos mais fracos, conversas com aqueles a quem ninguém liga, a consciência de que a linha que separa a normalidade da loucura é muito ténue, uma forma de amor por mulheres que não passa por querer uma ama, interesses culturais desrespeitados pelos meus amigos, esforços não notados, uma certa atracção pela loucura, gosto pela liberdade, fé católica, noção de que o estado novo foi uma nódoa, repito, uma nódoa, na história de portugal, a certeza de que a penitência é mesmo um sacramento e é possível o perdão, a noção de que não sou perfeito nem certinho, a falta de desejo de ser perfeito e certinho ou pelo menos de fingir que sou perfeito ou certinho porque assim é que se engatam gajas, a percepção dos problemas não resolvidos pelos meus amigos em relação à adolescência que não tiveram, porque foi triste, um certo asco a pessoas que têm a mania que sabem tudo sobre tudo, que acham que os outros não sabem nada e não fazem nada de jeito (a começar por um senhor chamado adolfo, que gostava muito de fazer isso; pensa no que isto pode querer dizer, se fores capaz), a humildade de reconhecer que sou uma merda, repito, uma merda, então talvez seja o momento de te dizer adeus. vai, amigo, liberta-te e vai viver a tua vida perfeita e feliz onde passas a vida a criticar toda a gente. adeus, talvez nos vejamos um dia. adeus. talvez um dia a minha vida deixe de ter estas coisas. talvez um dia a tua vida passe a ter estas coisas. talvez um dia eu abra os olhos. talvez um dia abras também os olhos, repito, talvez um dia abras os olhos, que pior que o cego que não quer ver é o que acha que vê muito bem e não vê um boi à frente dos olhos. talvez um dia respeites as pessoas que conseguem pôr por escrito aquilo de que não conseguem falar. talvez um dia respeites as pessoas, em geral. talvez um dia deixes de falar sobre as pessoas que gostam de ti só para as criticar e deixes de dar o rabinho às chefias. talvez um dia voltes a ser católico. nesse dia, podemos reencontrar-nos.

n.a.: provavelmente, nunca vais ler isto. mesmo que leias, provavelmente não vais perceber nada do que aqui está escrito. não vais querer perceber nada do que aqui está escrito. afinal, isto está escrito. não tem a ver com aviões nem com fazendas, que são as únicas coisas de valor que há no mundo, enquanto trabalhares com aviões e tiveres fazendas (no dia em que trabalhares com esterco, finalmente ele vai ter o valor que há muito lhe é devido no mundo). entrei de luto, perdi um amigo e perdi-me a mim. adeus, até um dia.

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