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sábado, 21 de julho de 2012

programas de tv

antónio tinha um programa de tv sobre o tarrafal, em cabo verde. quando faleceu, os cabo-verdianos agradeceram-lhe porque fez publicidade ao seu país, que é um bom destino turístico. urbano tinha um programa de tv sobre teoria geocêntrica. quando faleceu, copérnico agradeceu-lhe pelas férias nos calabouços de roma. josef tinha um programa de tv sobre gulag. quando faleceu, os opositores do regime agradeceram-lhe a oportunidade de poderem conhecer tão bem a sibéria. adolfo tinha um programa de tv sobre judeus. quando faleceu, eles agradeceram-lhe porque, os poucos que sobraram, puderam voltar à terra prometida. josé tinha um programa de tv onde inventava coisas sobre portugal. quando faleceu, todos lhe agradeceram porque foi um grande comunicador e um historiador notável.

neste texto não há nada de estranho? há. a parte do josé é real... mas há mais: o josé que inventava histórias sobre portugal foi ministro do antónio, que, no seu programa de tv, falava sobre os benefícios de umas férias no tarrafal, em peniche ou em caxias, a fazer terapias de sono, a ficar em pé durante dias e a passar fome, apenas porque não se concordava com ele. o josé foi ministro da educação e nesse período educou umas pessoas à bastonada e mandou outras estudar na guerra em áfrica. o josé, trinta e tal anos depois, enquanto inventava coisas sobre portugal a ver se as pessoas se esqueciam dos belos gestos que teve, conseguiu afirmar que o seu amigo antónio era um democrata.

eu sei que sou mau. mas quando morrer digam mal de mim. não façam de mim o homem bom que nunca fui. não transformem fascistas em democratas. nunca. não digam que fascistas foram grandes homens e gente importante. nunca.

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