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terça-feira, 18 de junho de 2019

a minha vida amorosa é desinteressante para o nosso jantar

estava demasiado cansado
para ver filmes sobre poesia,
tinha de pôr a mão esquerda
sobre a cabeça para conseguir
ver um filme sobre poesia
em que a rapariga se chamava laura,
penso que o primeiro amor do poeta
que protagonizava o filme,
chamava-se sofia, o meu primeiro amor,
gostava dela nas tardes
sentado no pátio da escola
e ficava só a olhar porque
sempre demasiado fechado para
«amo-te tanto gosto tanto de ti
não sei se já te disseram que és linda»,
há uns dias a sofia na fila das compras
com o marido e uma velha
que penso ser a mãe,
já a não interessar se sou tímido
porque já perdi, perco sempre,
o coração ainda a bater estranho
e os olhos e as mãos a distrair-se numa imitação
de mentos e noutra de tic tac
e o coração não «tic tac» como um relógio,
a bater devagar como um bombo cansado
porque hoje já não sofia,
já não ninguém tantas vezes,
já não saber se vai amar ainda alguém,
se sabe amar ainda alguém,
se algum dia a timidez será rompida
como um tímpano depois do fogo de artifício num feriado
e o «gosto muito de ti»
finalmente «amo-te há muitos anos»,
libertado como o grito das corujas ou
o abrir milagroso dos crisântemos no jardim

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