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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

dois de janeiro

o dia dois de janeiro devia ser um dia mundial para os humoristas, fosse eu a favor de dias mundiais do que quer que fosse. isto porque neste dia me lembro sempre de uma das maiores aproximações ao humor do senhor meu pai, que religiosamente todos os dias dois de janeiro aproveita para dizer que «temos de ir ali ao largo para ver passar um homem com quantas orelhas quanto dias tem o ano». 
por que não ir ao largo dia um para ver uma pessoa com tantos narizes quanto dias tem o ano, ou dia dez para ver uma pessoa com tantos dedos das mãos quanto dias tem o ano ou no dia trinta e dois do ano para ver uma pessoa com tantos dentes quanto dias tem o ano (sendo que, no oeste português, é difícil que passe uma pessoa com dentição completa, pelo que é melhor passar por lá antes; quem sabe se não logo na primeira semana)? esta é, como a maioria das piadas populares, uma graça bastante fraquinha.
no entanto serve muito bem como piada de início de ano, pelo que continuo a defender que por causa dela o dois de janeiro devia ser o dia mundial dos humoristas. serve bem como piada de início de ano porque sempre é melhor do que as graçolas de início de ano que andam por aí agora, todas sobre crise e economia e finanças. antes prefiro começar o ano a rir-me por me deixar apanhar na marotice de quem me quer fazer ir até ao largo ver uma coisa nunca vista que na verdade é o mais normal que existe (ou por haver quem ache que alguém vai cair nessa hábil ratoeira) do que a rir-me porque vou ficar mais pobre e continuar a ser roubado (no fundo, o que as pessoas que fazem essas graças querem é lembrar-nos de que estamos em crise de economia e das finanças, como se não o soubéssemos já e como se não sofrêssemos suficientemente com isso).
este ano, em que isto parece que vai ser mesmo mau, é que precisamos mesmo de nos rir de outras coisas. este ano é que precisamos de chorar por causa de outras coisas, de conversar sobre outras coisas. este ano é que precisamos da cultura (dos livros, dos filmes, dos discos, da pintura, da escultura) nas praças outra vez. este ano é que precisamos da teologia nas praças outra vez. precisamos outra vez dos tempos em que havia bulha no mercado por causa do filioque e não dos zero vírgula cinco por cento de não sei quê do gaspar.

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