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domingo, 4 de novembro de 2012

Um Natal para gente adiantada

Sou pouco fã de que se comece já a pensar no Natal, afinal ainda falta bem mais de um mês, e afinal até há um tempo litúrgico previsto para a sua preparação espiritual, sendo que a outra preparação não precisará, certamente, de mais tempo do que essa. De qualquer modo, sei que há sempre quem comece já a pensar nessa altura do ano e quero ajudar essas pessoas. 
Quando estiverem a pensar em dar prendas, pensem em livros. Depois, pensem em livros baratos. E pensem em livros de autores portugueses. Se tiverem um mínimo interesse pela teologia, recomendo-vos o livro Nenhum caminho será longo [Prior Velho, Paulinas 2012], de José Tolentino Mendonça, uma boa reflexão sobre o tema da amizade a partir de um ponto de vista teológico (como toda a obra teológica e ensaística do padre Tolentino, acaba por ser também um bom tratado sobre o que é, ou devia ser, o papel do próprio teólogo no mundo). Além disso, para os interessados em teologia mas que nunca tiveram acesso a obras deste tema, há sempre um livro relativamente barato e que vale a pena ler, para compreender a sociedade ocidental em que vivemos. Chama-se Bíblia Sagrada e pode encontrar-se, de forma relativamente fácil, em diversas traduções e aos mais variados preços.
Se tiverem um mínimo interesse pela literatura, podem sempre oferecer Não é meia noite quem quer [Lisboa, Dom Quixote 2012], o mais recente livro de António Lobo Antunes, o português que devia ter sido Nobel e nunca foi porque não é comuna, ou ainda O filho de mil homens [Carnaxide, Alfaguara 2011], última obra de Valter Hugo Mãe, uma boa reflexão sobre o que ainda nos pode unir neste tempo de escombros.
Por fim, aos interessados em poesia deixo três recomendações, garantindo que é aqui que, em matéria de livros, certamente gastarão menos dinheiro ficando mais bem servidos. Em primeiro lugar, sugiro O comportamento das paisagens, de Pedro Tiago [Lisboa, Artefacto 2011], obra de um autor jovem e que, não por acaso, é meu irmão. Depois, é sempre de ler Como se desenha uma casa [Lisboa, Assírio & Alvim 2011], do recentemente falecido Manuel António Pina . Por fim, a obra mais recente de poesia de José Tolentino Mendonça, Estação Central [Lisboa, Assírio & Alvim 2012], onde se encontra este poema (na p. 25):

Quando Deus vacila em mim

«Deus é impotente e fraco no mundo, e
somente  assim está connosco e nos ajuda.»
Dietrich Bonhoeffer

Quando Deus vacila em mim
sem adornos, ataduras, sem outro pretexto
Quando o sinto a ponto de perder-se
na folhagem a meu lado
compreendo o grande mistério
uma lei face à qual as palavras
não servem

Deus abraça o meu vazio profundamente grato
Abraça a imundície de todos os seus filhos
e continuamente declara-os bem aventurados

Pois Deus sendo casto deixa-se consumir
com a paixão insultuosa
dos devassos

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