blogue de poesia e teologia.

aqui não se escreve segundo o acordo ortográfico de mil novecentos e noventa.

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quarta-feira, 24 de abril de 2024

celeste dos cravos (ii)

é a véspera da revolução:
visto-me, ao acaso,
de cravos vermelhos e brancos.
amanhã é dia de festa,
de vencer o cinzento 
e romper o silêncio 
que nos impunham 

sábado, 13 de abril de 2024

não atire pedras

há vários alertas
junto do promontório 
que cai até ao rio
para que não atiremos pedras
aos telhados das casas.
guardei as pedras que acumulei
nos bolsos das calças 
ao longo da jornada
e sentei-me no banco forrado de azulejos,
o mais bonito banco de azulejos
em que já repousei,
e escrevi um poema sobre pedras
e o meu coração que está lá longe,
sempre lá mais longe

sábado, 6 de abril de 2024

trois couleurs: bleu

cada choro e cada riso
na cara linda da actriz
são uma lembrança de que
há apenas uma forma eficaz
para ressignificar a cor azul:
o amor, uma canção de amor
sussurrada em grego

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Cahiers de Taizé

 A Páscoa deste ano foi vivida em Taizé. A partir dessa experiência escrevi alguns poemas, que podem descarregar e ler aqui.

quinta-feira, 21 de março de 2024

arbor dies

faremos um poema
como uma árvore
a criar raízes ancoradas
no centro do mundo.
à sombra esguia dos seus ramos
contemplaremos as flores
de magnólia
e buscaremos o silêncio.

quarta-feira, 20 de março de 2024

um dia de véspera

amanhã é dia de engalanar os poemas,
costurar as palavras com flores do campo
e cheiro de jasmim e canções de festa.
hoje desejo apenas um poema cru,
flores de plástico sujas de pó
numa jarra velha de barro
ao canto da sala vazia.

terça-feira, 19 de março de 2024

parque dos poetas

por entre palavras que nascem do chão
e palavras que fogem até ao rio
e se tornam mar e paisagem
há olhos a deter-se na dança dos dias
e em cores que nos levam rumo ao mar
e outros que se encantam com uma mulher de pedra,
uma descendente de pedra de uma família dizimada.
há lugares assim, para olhos que se encantam
e corações que querem parar num mundo
que podia ser sempre um jardim

domingo, 3 de março de 2024

escola velha

o que busco nos lugares abandonados
são vestígios de vida
objectos que lembrem alegria

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

«um libertino passeia por braga»

Para Luiz Pacheco


Há um pombo preto à janela
de uma casa abandonada
frente à igreja de São Victor.
O pombo está parado à espera da vida,
os homens vagueiam pela cidade
à procura de um sinal que dê sentido,
talvez um pombo preto à janela
a aguardar por um bicho no passeio

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

o sol a bater contra persianas laminadas

a vida segue vagarosa, aqui,
as árvores agitam-se rápidas
do lado de lá da janela,
como a querer fugir para o mar,
o sol bate contra as lâminas das persianas
a empurrar para um lugar outro,
mais quente e mais rápido
onde continuar os dias por visitar

domingo, 28 de janeiro de 2024

naus de társis

este é um lugar de vento.
como o vento leste despedaça as naus de társis,
aqui se vai agitando, pouco a pouco,
os passos com que conto
e gasto a vida

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

a estátua ao escritor desconhecido, em budapeste

a verdadeira poesia desaba por dentro,
o resto é silêncio.
deixei estes versos roubados aos pés da estátua do escritor desconhecido
e corri feliz para junto da ponte széchenyi
para ver correr o danúbio
e recuperar a memória dos teus olhos bonitos
e do sorriso tímido com que reagias à cidade amarela.
depois dos dias da neve, budapeste ganha tons bonitos
e parece ornada de flores silvestres

sunny days

nestes dias de sol de inverno
espero só um banco de jardim sem sombra
onde ouvir os pássaros
e um solo de guitarra
com pedal chorus
e alguma distorção
a condizer com a vida,
às vezes distorcida

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

sete luzes a iluminar a estrada velha

Diógenes, se fosse vivo,
apontaria a sua lanterna
aos olhos dos homens,
para iluminar a mágoa
e buscar uma esperança
que vive sempre lá mais dentro

domingo, 31 de dezembro de 2023

uma árvore nua do lado de lá da estrada

há festa ao largo,
fogos de artifício e risos altos
nas casas ao longe.

procuro um lugar de silêncio,
uma casa onde ouvir o rumor do vento,
um banco de madeira para reclinar o coração